
Na Rua das Pataratas a morada do Divino

*Por Júnior Vianna
Ali na Rua das Pataratas, resquício da Oeiras colonial, foi erguida a Galeria do Divino Espírito Santo, obra idealizada e firmemente edificada pelo oeirense de “quatro costado” Olavo Braz, entusiasta das coisas da Primeira Capital e devoto fervoroso do Paraclito. A atmosfera poética do lugar se materializa nos escritos que dependurados nas paredes externas da casa exalam a mais profunda oeirensidade, daqueles poetas que não se cansam em revelar o sentimento afetuoso pela terra mãe do Piauí.
Ao adentrar, eis ali a mais instigante demonstração de fé ao Espírito Santo por essas bandas do Brasil, a arte naquele lugar assume uma função evangelizadora, cada peça uma história, uma interpretação e acima de tudo uma reverência a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. A sacralidade do lugar transmite ao visitante a mensagem do quanto é forte a devoção dos donos da casa, morada de Olavo, morada de Isabel, coincidência ou não, o mesmo nome da infanta que introduziu em Alenquer a Festa do Divino, que em gesto de humildade ofereceu a sua Coroa ao Espírito Santo. O gesto divinal de a rainha reproduzir-se no gesto do casal Braz Nunes, que abre solenemente a sua residência para receber os devotos, visitantes e admiradores da boa arte.
Por toda casa uma falange, talhados no bom gosto da arte sacra piauiense. Anjos de todos os tamanhos, de cores diversas, anjos negros! Querubins de olhos piedosos revelando na madeira doce o mais tênue dos sentimentos humanos, a compaixão! A presença dos anjos junto ao orago devotado deixa a casa ainda mais celestial. De maneira bastante oportuna em um dos cômodos da galeria, uma homenagem a Dom expedito Lopes, primeiro prelado da diocese de Oeiras, homem de Deus assassinado por questões dogmáticas, mas que vive no imaginário coletivo dos oeirenses como um bom pastor, visto que tinha como lema “Restaurar tudo em Cristo”.
A geleira do divino é sem duvida um grande presente para a cultura oeirense, que há muitos anos celebra de maneira efervescente a Festa de Pentecostes, momento que a cristandade rememora a descida do Espirito Santo sobre os apóstolos. A Festa do Divino imprime nos devotos à possibilidade de regeneração e renascimento, sem dúvidas um misto de sensações, onde as orações e as promessas são os meios pelos quais evidenciam toda uma expressividade de fé.
Visitar essa galeria, é ter a certeza que em Oeiras muitas famílias foram se modelando com o transcorrer do tempo mediante os preceitos religiosos, assim nas cercanias da Vila da Mocha, surgiu uma cristandade que conhece a risca os rituais desde as missas de Te Deum aos lamuriantes de Requiem. Dessa forma, tão quanto nas igrejas, no âmbito das moradas sempre existia o oratório do santo de devoção.
Assim, visitar Oeiras é ter contato com suas mais vibrantes manifestações e dentre elas a Devoção do Divino que tão bem ilustra o oeirense Olavo Braz, natural dessa cidade pitoresca, onde as luzes das velas, o perfume das flores e principalmente os lábios que se batem em oração, sintetiza a Festa do Paráclito como uma das manifestações religiosas de maior destaque do povo dessa terra sertaneja.
*Júnior Vianna é historiador e estudioso da história e memória de Oeiras.