
Não basta que seja pura e justa a nossa causa

* Por Rogério Newton
Nos últimos dias, por conta de duas notícias veiculadas no site Mural da Vila, sobre a situação do Cine Teatro Oeiras, que se encontra de portas fechadas, apesar de ter sido “reinaugurado” com honras e pompas no último 24 de janeiro, vários comentários foram encaminhados para esta página na Internet. As opiniões dos internautas são todas de protestos, os quais são compreensíveis, mas correm o risco de caírem na vala comum do “denuncismo” inconsequente.
Também me associei ao coro dos descontentes: quero ver o Cine funcionando como um verdadeiro espaço público onde se pratica a Arte. Mas, abraçando a opinião do leitor que se identificou como Vivaldo, discordo da maneira politicamente rasteira como quase todos os internautas se manifestaram. Pensando (ou me iludindo) em contribuir para o debate em curso, faço aqui um pequeno resumo dos tópicos que abordei em dois comentários que fiz sobre a questão:
1. Os protestos contra a falta de funcionamento do Cine devem se fundamentar em propósitos elevados. Não podem atender a interesses partidários miúdos, entre outros motivos, porque os partidos políticos em Oeiras, historicamente, nunca deram a merecida atenção para as questões culturais.
2. O caso do Cine é apenas a "ponta de iceberg" de uma questão mais ampla e mais grave, que não comporta atitudes emocionais mal resolvidas, tão ao gosto de quem quer desviar o foco da questão essencial, que é fundamentalmente política, no sentido aristotélico do termo, e não no sentido redutor que muitos, propositadamente, querem dar.
3. É necessário mais cuidado e mais respeito com uma causa tão linda. Sem traição da consciência crítica, é preciso buscar um canal de comunicação com os gestores municipais. Não temos tradição de diálogo político em que as partes envolvidas sejam mutuamente respeitadas, mas esse diálogo, que não é fácil, tem de ser construído. Tem que ser pelo menos tentado. Ou tudo estará perdido.
4. A Prefeitura e a Secretaria de Cultura de Oeiras, de um lado, e os artistas, de outro, não podem ou não devem ser blocos monolíticos, cada qual entrincheirado nas suas “verdades”.
5. A indignação sincera e a consciência crítica são necessárias, mas não são suficientes. É preciso também agir. Concretamente, sugiro que os artistas e parceiros preparem, por escrito, uma pauta de reivindicações sobre o Cine e a entreguem ao Sr. Prefeito de Oeiras. Nessa pauta não podem faltar três tópicos:
a) gestão democrática do Cine;
b) que seja um espaço público de desenvolvimento da arte, principalmente teatro e cinema, e não mero local de cerimônias;
c) metas claras e planejamento para alcançá-las.
No mais, lembro os versos do poeta angolano Agostinho Neto: "Não basta que seja pura e justa a nossa causa / É preciso que a pureza e a justiça existam dentro de nós" (citado de memória).
*Rogério Newton é escritor oeirense