
Nossa senhora da vitória do brejo da mocha e do piauí
No apagar das luzes do século XVII chegavam ao sertão do Piauí, à Fazenda Cabrobó, de propriedade do sertanista Domingos Afonso Mafrense, os Padres Miguel de Carvalho e Thomé de Carvalho da Silva trazendo consigo o documento canônico de criação da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo da Mocha. Os padres vinham sob as ordens do Bispo de Pernambuco, Dom Frei Francisco de Lima e traziam também a imagem de Nossa Senhora da Vitória. Era o mês de novembro do ano 1696 quando aqui checou o ícone de nossa Virgem da Vitória, e a seca já castigava o sertão há alguns meses. Mas nada que fizesse diminuir a beleza agreste daquele momento.
As primeiras chuvas enfeitavam a paisagem nos idos de 1697, quando foi erguida a capela e entronizada a imagem ao Altar Mor do primeiro templo regular do Piauí. Com isso, a fazenda desenvolveu-se, chegou a vila, a cidade e a capital da Província. E à sombra da Catedral de Nossa Senhora da Vitória a cidade vive há mais de trezentos anos sob as bênçãos de Nossa Senhora sob a invocação de Virgem da Vitória.
Nossa Senhora da Vitória é a padroeira da cidade desde o século XVII, da Diocese desde sua criação no século XX, e do estado do Piauí desde 1997. Sua festa ocorre todo mês de agosto, coincidindo com a Festa da Assunção de Nossa Senhora, vitoriosa rumo ao céu. O festejo é rezado em forma de novena, ofícios, rosários e procissão. A partir da década de 80 do século XX, com o erguimento da imagem gigante sobre o Morro do Leme, ao entardecer do dia da festa (15) os fiéis se dirigem em procissão até aquele santuário para acompanharem a missa de encerramento das festividades.
Mas a Missa Solene da Festa é celebrada na manhã do dia 15 de agosto. Quando o dia amanhece, o velho sino desperta a cidade com seu toque peculiar, fazendo com que todos nos transportemos através dos séculos para o período colonial.
Durante a missa são vivenciados muitos ritos e cerimônias – sempre acompanhados pelo coral e o toque mágico dos nossos bandolins – ricos em símbolos e significados. Quando a Igreja é incensada vive-se um momento de magia e sublimação, e pode-se (quase) sentir a presença de anjos naquele lugar sagrado.
Ao se falar em rituais, cumpre mencionar que no ano 2007, durante a Festa da Padroeira, foi celebrada a dedicação da Catedral de Nossa Senhora da Vitória. A cerimônia foi presidida pelo Sr. Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri, e seguiu todo o devido ritual, durando cerca de três horas.
O ponto mais emocionante da Missa Solene da Festa de Nossa Senhora da Vitória é alcançado quando os bandolins “recitam” o Hino à Matriz, especialmente quando na estrofe “os teus sinos repicam festivos” o velho sino ressoa “cantando” junto com a assembleia de fiéis.
Desde que nasci (num desses 15 de agosto, enquanto os sinos repicavam na missa solene) acompanho a Festa da Padroeira, celebrando ativamente todos os seus momentos, desde a preparação até a festividade em si. Porém a mim é impossível não me emocionar a cada ano, cada noite de novena, a cada ladainha, ou quando recitamos devotados sua oração, e ainda ao cantarmos o Hino de Nossa Senhora da Vitória, declamando quem ela é para esse povo do Brejo da Mocha e do Piauí: “Vós sois deste templo, com prazer e glória, Alta Padroeira, Virgem da Vitória”.
Sânia Mary Mendes Mesquita de Sousa Santos
Especial para o Mural da Vila