
Nossa senhora da vitória do sertão do piauí
“Trezentos anos de História/ De Resistência e Vitória/ Um povo unido que espera/ Raiar uma Nova Era.”
(A marcha de um povo que espera/ Pedro Guimarães)
Sob o orago a Nossa Senhora da Vitória, nasceu a Freguesia brejeira da Mocha no sertão do Piauí, uma investida não muito contemplativa aos olhos dos curraleiros da Casa da Torre. O que se fazia nessas terras no findar do século XVII era um misto de evangelização e ousadia, mistificado na proeza Migueliana, sob a batuta de Dom Frei Francisco de Lima que da Cátedra de Olinda-PE, em invocação ao Senhor Salvador do Mundo desejava que se efetivasse a criação de um novo núcleo eclesiástico em terras sertanejas, algo audacioso para época, mas acima de tudo era uma vitória para aqueles poucos homens que moravam em solo piauiense. Uma vitória sob as bênçãos de Nossa Senhora da Vitória, representada através de uma imagem simplória e de uma beleza quase que implícita. Um ícone seiscentista, que de acordo com informações de Dagoberto Junior, teria a sua origem em alguma oficina baiana.
Assim, diante a ermida simplória, a freguesia se transformou em vila, não tardando em ser elevada a condição de cidade, ao tempo que o Templo custodiado por homens, ditos bons, deram ao orago uma “Casa Forte” de pedra e sobre o retábulo da capela-mor, aos pés da imagem, eram feitas rezas e benditos em honra a vivos e defuntos e seguindo a medieval tradição enterravam seus parentes dentro da igreja. A imagem primitiva de Nossa Senhora da Vitória tronou na matriz até meados do século XIX, quando foi substituída por outra imagem de mesma invocação. Posta a nova imagem, o que teria sido feito com a imagem primogênita?
Foi recolhida a sacristia com a alcunha de velha, mas mesmo assim era usada nas procissões que anteriormente realizava-se no terceiro domingo da Trindade. Com o passar dos anos passou as ser hospedada segundo Dagoberto Júnior na residência da Família Campos, tutelada pela Senhora Joaquina Piauilino de Holanda Campos. Sem delongas, o que ocorria em Oeiras naquela época era que durante as reformas nas igrejas, as imagens eram levadas a casa de famílias abastadas, que por ventura quase nunca voltavam ao seu lugar de origem, destino esse que teve a imagem primitiva de Nossa Senhora da Vitória, que como herança passou por diversas mãos. Na década de 70 do século XX inúmeras imagens dos idos coloniais foram vendidas a custos insignificantes a colecionadores que adquiriram tais peças de famílias oeirenses.
Assim, evitando que a imagem de Nossa Senhora da Vitória tivesse o mesmo destino que tantas outras, a peça foi comprada pelo então pároco Leopoldo Portela do senhor popularmente conhecido como Amorim. Uma aquisição que em longo prazo passou a ser uma das imagens prediletas do acervo sacro particular da família Portela, visto que o senhor Leopoldo deixara o sacerdócio. Atualmente a peça esta sob o auspicio da viúva do mesmo na cidade de Teresina. Em 1997, Nossa Senhora da Vitória foi proclamada como padroeira do Piauí, título concedido pelo Papa João Paulo II evidenciando três séculos e muitas gerações de devoção mariana, porém a controvérsia é que a imagem primitiva não faça parte do acervo sacro oeirense.
Por bom senso, mesmo que a imagem não fosse reposta no altar-mor da Catedral, que fosse ao menos exposta, diga-se de passagem, em destaque no Museu de Arte Sacra da cidade, algo que massagearia o ego dos oeiresnes e sanaria a repetida pergunta dos visitantes: ”onde esta a imagem primitiva?”. Sem ufanismo, a imagem primitiva de Nossa Senhora da Vitória é herança de todos os oeirenses e nada mais sensato que ela estivesse em Oeiras, para que tantas gerações que a desconhece pudessem dar o devido valor a ela como uma das peças fundamentais para a concretização da formação social, política e cultural do estado do Piauí.
* Júnior Vianna é historiador