
O aroma de meu pai

*Professora Gemma Galgani de Holanda Barroso
Era o dia 31 de janeiro de 2013. Na tarde daquele dia, visitei meu amado pai Raimundo Barroso de Carvalho na UTI de um Hospital de Teresina, a visita das 16 horas, e vi um brilho de amor e ternura no seu olhar para mim. Disse-lhe palavras carinhosas e que iria em seguida participar da Santa Missa na Catedral de Nossa Senhora das Dores, para pedir pela recuperação dele. Coloquei toda minha esperança no altar do Senhor e no coração materno da Senhora das Dores a saúde de meu pai. Mais tarde naquela noite fiz uma vigília diante do Santíssimo Sacramento, na Capela da Casa São José.
Sou uma adoradora do Santíssimo por Quem tenho profundo sentimento de afeto e amor. Momento único que me completa por inteiro. Creio que minha alegria e paz interior vem dessas visitas que faço diariamente.
Foi com essa paz e serenidade que recebi o telefonema de Dr. Marco Santana, meu estimado cunhado, comunicando que meu pai foi para o Céu. Lembro-me de que fiz uma prece de gratidão a Deus pelo dom da vida de meu pai e pedi que o recebesse com amor e ternura na Pátria Trinitária, nossa morada definitiva. Meu coração foi tomado por imensa tristeza, mesmo tranquilo. Os desígnios de Deus são de Deus. A sua vontade é plena e soberana em nossas vidas.
Nas minhas leituras pelas Sagradas Escrituras, O Sermão da Montanha desperta essa confiança plena que tenho no projeto de salvação que Jesus introduziu no mundo. Projeto que passa pelas Bem-Aventuranças. Gandhi chegou a dizer que: "Se fossem destruídas todas as obras da humanidade, e sobrasse apenas O Sermão da Montanha, nada se teria perdido".
O aroma de meu pai vem da Bem-aventurança "Felizes os puros de coração, porque verão a Deus" (MT 5,8). Um homem puro de coração, íntegro, simples e humilde, que foi fiel ao projeto de Deus. Um homem que abraçou sua profissão de Farmacêutico com o aroma da ética e do respeito ao próximo. Cuidou da família com amor e esmero paternal. Viveu em Oeiras com o aroma da discrição e simplicidade. Meu pai foi um ser humano discreto nos gestos e nas atitudes. O aroma da doçura foi para mim marcante. Como ele era um ser doce, suave e de uma leveza no andar e no viver. Jamais o vi mal humorado. Tinha uma doçura no olhar e no tratar. Com ternura acolhia e atendia a todos que o procuravam na Farmácia Barroso. Era benquisto na cidade de Oeiras.
Na estrada de nossa vida, há uma sinalização do Cristo, para vivermos a mensagem do Sermão da Montanha - a felicidade plena, que devemos abraçar por completo. Meu pai viveu essas bem-aventuranças humanamente, pois era um seguidor na vivência desta proposta nova de vida que Jesus introduziu na história dos homens e mulheres de boa vontade.
Com esses bons aromas viveu meu pai pelos caminhos da fé na linda Oeiras, cidade que amava e que o acolheu maternalmente por décadas até ser chamado pelo Pai Celeste na data de 31 de janeiro de 2013. São dez anos sem a sua presença física benfazeja, mas dez anos de saudade e dos bons aromas que ele nos deixou. A saudade é minha companheira e gosto de sentir saudade, pois remete para um arquivo de boas lembranças de meus amados e inesquecíveis pais, que guardo com muito carinho.
Saudade dos aromas de meu pai!