O duplo silêncio da Sexta-Feira Santa na quarentena do COVID-19
*Por Rita de Cássia Neiva Santos Gama
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, rememora-nos a traição de Judas, a agonia de Jesus no Monte das Oliveiras, a sua condenação, a sua Crucifixão e o seu Sepultamento, bem como o isolamento humano em virtude da pandemia do COVID-19, que segregou a humanidade da Pedagogia do toque, do encontro, do abraço e da liberdade...
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, convida-nos à reflexão do sofrimento de Jesus, quando foi julgado injustamente, humilhado, flagelado, coroado de espinhos e vilmente assassinado, também nos leva a uma exacerbada interiorização, sobre os porquês deste congelamento de interações humanas, sobretudo da tristeza pelas vidas ceifadas e pelo medo do prosseguimento desta caótica realidade ocasionada pelo Coronavírus.
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, denota o vazio dos passos dos fiéis católicos no solo da urbe mochina, especialmente no entorno da Igreja da Matriz, sem vivenciar a adoração da Santa Cruz, a comunhão eucarística, o descimento da Cruz, a procissão do Senhor Morto e uma necessidade de mudança de comportamento sobre nossas ambições, egoísmos, contravalores e posturas narcisistas que nos levam a um óbice do nosso crescimento espiritual e humanizante.
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, não nos recorda apenas o momento do sacrifício de Jesus na Cruz, pagando pelos pecados da humanidade, mas também nos transporta para uma meditação salutar de gratidão diante da morte do Senhor em prol da nossa salvação, estendendo-se à crença de que o apartheid que estamos vivemos, terá fim, porque Jesus não abandona os seus.
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, fortalece-nos da fé de que o Nazareno ressuscitou ao terceiro dia e que continua ressuscitando o mundo através da esperança renovada por meio do incessante trabalho dos anjos humanos (em especial os cientistas e profissionais de saúde), que aguerridamente lutam para que a vida não seja interrompida por uma pandemia viral.
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, preenche-nos largamente da devoção ao rei dos Reis, ao zelo e amor pela família, principalmente pelos idosos, com o valorizar das coisas simples, da solidariedade para com os menos favorecidos, com orações, jejuns, abstinências, com agradecimentos e perdão, onde esse ostracismo social não representa uma prisão, mas sim ponte restauradora da nossa essência humana vilipendiada pela vaidade do tempo hodierno.
O duplo silêncio deste dia, Sexta-feira Santa, há de ser espelho de transformação e redimensionamento para um novo estilo de vida, para o banimento do etnocentrismo interior que alimentamos, para que quando a tempestade passar, sejamos continuamente fotografia viva do amor de Cristo.
Aleluia! Jesus triunfou sobre a terra no Domingo da Ressurreição! Ademais, Ele triunfará novamente sobre o mundo e sobre nós, ora caminheiros em quarentena, mas fortes e incansáveis profetas de seus ensinamentos.
"E porque Ele vive, eu posso crer no amanhã"’...
Rita de Cássia Neiva Santos Gama (Cassí Neiva)
Oeiras-Pi, 10-04-2020