
O senado é pinto, perto da assembléia legislativa do piauí!
A mulher macaco e eu
Dizia madre Teresa de Calcutá que, pelo derredor, tudo é berada. Então, acho que se não era o ano de 1981, berava. Lá ia eu subindo a Alameda Parnaíba, no rumo do Parque de Diversões Ipanema, que em todas as férias escolares se instalava ali na Praça do Marquês. Pra não gastar o dinheiro que o papai tinha me dado com chiclete, algodão e pipoca doce, antes de sair de casa fiz uma pequena merenda: um abacate esmagaiado no garfo, misturado com açúcar, e quatro ovos caipiras, com manteiga de garrafa. Assim, feito o massará com farinha de puba.
Antes de chegar no Parque, eu já ia sentindo um cozinhado pelo bucho. O abacate e os ovos não tavam se entendendo muito bem lá por dentro, mais ou menos assim feito o Tererê e o João de Deus. Eu ainda calculei de voltar pra casa, mas tinha passado o dia escutando o alto-falante berrar, de cima de uma Veraneio que andava pela minha rua, que a atração principal daquela noite era uma mulher que virava macaco. Uma tal de “Monga”. Eu não podia deixar de ver um negócio daqueles! E toquei no rumo do nariz.
Ingresso comprado, lá tava eu numa tenda, empinhada de gente, olhando uma mulher de biquini numa jaula. Não sei se foi do medo que eu já tava sentindo mesmo antes de começar o espetáculo, mas a dor de minha barriga passou a apertar mais. Minha testa começou a suar feito tampa de cuscuzeira e eu fui dando na fraqueza. Me apeguei com meu Divino São José, e jurei: “Meu santo, se eu escapar dessa, eu vou ser um menino tão bom, mas tão bom, que vou pro céu com tripa e tudo”.
Jumentim mamador
O certo é que, pelo visto, não deu nem tempo de São José me ouvir. A luz começou a se acender e a se apagar, feito um pirilampo, deixando a gente zonzo de agonia. O locutor se apregou num microfone enrolado numa flanela vermelha e começou o alarido com uma voz cavernosa: “Mooooooonga, eleve seus pensamentos ao alto! Não deixe que isso aconteça com vocêêêê”. E a mulher foi mudando de cor. Foi ficando amarelecida. Dijunto da boca, começaram a sair umas presa de cachorro. Os braços começaram a ficar cabeludos... E quanto mais a mulher se transformava, mais meus olhos ficavam truvo e mais minha barriga doía. Doía tanto que eu comecei a trancar os joelhos e a afastar os pés. Já tava impriauzim um jumentim mamador agarrado nos peito da mãe.
E o cabôco gritava no microfone, como quem tá lutando pra tirar espírito: “Ooooh, meu Deeeeeus, nãããão! Ela vai se transformar de noooovo! Seus pelos começam a crescer, as unhas se transformam em garras...Ela vai se soltar das grades!”. Aí a mulher de biquini virou foi um gorilão parecido o King Kong, sacudindo as grades pra lá e pra cá, querendo sair... “Caaaalma Monga, somos seus amigos!! Nãããão, Monga! Nãão!...” Pááá!! Buffo!! Só ouvi foi a lapada da porta da jaula batendo no chão.
E foi ela se soltando de lá e eu me afroxando de cá. Só senti foi o escorrido, assim mornim, vazar pelas minhas cambita. E a catinga danou-se a subir! Baixei a cabeça e aberei no rumo de casa. Envergonhado e fedendo! Mais desconfiado do que cego que tem amante.
A minha leitora e o meu leitor vão me dar uma licencinha bem aqui que eu vou bem ali e volto jazim.
“Casa dos Horrores”
No começo deste mês, a revista britânica “The Economist”, em matéria que repercutiu mundo afora, chamou o Senado brasileiro de “Casa dos Horrores”. Com o subtítulo "O que os parlamentares britânicos podem aprender com os senadores brasileiros", a revista dava conta dos recentes escândalos políticos na Inglaterra em que deputados foram pegos usando dinheiro público para pagar contas particulares e fazia um paralelo com as nossas traquinagens. A reportagem detalha como é a vida no Senado com que os brasileiros já estão acostumados: 10 mil servidores para tomar conta de apenas 81 senadores, plano de saúde gratuito e vitalício para os parlamentares e auxílios-moradia generosos dentre outras vantagens do conhecimento público, sem falar naquelas dos “atos secretos”.
Li a revista e comecei a matutar: será que o nosso Senado é mesmo uma coisa pra inglês ver? O que é que tem demais lá? Com um orçamento anual de quase R$ 3.000.000.000,00 (Três bilhões de reais) pra cuidar dum mói de veím, ou se gasta a fulote ou não ái cristão que dê conta de estruir o dinheiro todo. Não vejo aí nada que possa escandalizar uma pessoa de razoável bom senso assim como eu! Quer saber por quê? Eu vou contar.
Se no Brasil tem mesmo uma “Casa dos Horrores”, não é lá em Brasília que ela tá. É por aqui assim, viu! O Piauí tem apenas 1,6% da população brasileira e só contribui com 0,54% do PIB. Mesmo assim, tem uma Assembléia Legislativa com 30 deputados que emprega mais de 3.000 pessoas. São aproximadamente 100 servidores pra cada parlamentar. Tirando por base a nossa Assembléia, numa regra de três simples, para atender a 100% da população brasileira, que é o caso do Senado, seriam necessários lá 187.500 assessores. E para atender 100% do PIB, que também é o caso, o Senado precisaria ter mais de 355.000 servidores. Como diacho é que uma revista véa internacional dessas, que se diz especializada em economia e finanças, não sabe fazer uma conta besta dessa? Rum! Hum, hum...! Num tô dizendo mesmo...!
Este escândalo do nosso Senado tá mais é pra Mulher “Monga”. Só serve pra assustar menino cagão.
Cumpade Heráclito
No mês de junho passado, eu estava em São Paulo e acessei a internet para ver as novidades do Piauí. A primeira coisa que vi foi que o meu ex-quase-futuro com padre Heráclito Fortes (ele não aceitou ser padrinho da minha filhota – a petistinha) tinha se operado pra reduzir o estômago. A notícia dava conta de que ele ainda estava internado no Hospital Sírio-Libanês.
Não tive dúvida! Mais que depressa, me ajumentei no rumo do Hospital e, no caminho, passei numa banca de jornal. Lá comprei uma revista Boa Forma para presenteá-lo.
Parece que o meu presente ajudou. Esta semana vi o senador na televisão. Até o pescoço dele já tá dando pra ver! Tá ficando bunitim que tá danado!
(Ah! Antes que eu me esqueça: tem duas pestes no mundo que nunca vão se acabar – barata e puxa-saco).
*Danilo Damásio é empresário e advogado