
Onde é a saída?

*Por Jota Jota Sousa
Temos sempre a sensação de melhor conhecer os homens diante da pujante face da vitória. Pois, afirmo categoricamente que melhor os conhecemos frente ao pântano cinzento, indesejado e indigesto da derrota. E se estes homens forem os da linha de frente -os chamados líderes- se desnudam mais facilmente. No verdadeiro líder fica evidenciado o brio, o caráter e a capacidade de encorajar os liderados nas sombrias trincheiras das incertezas. Enquanto que os covardes mostram logo as garras afiadas até então escondidas sob a falsa roupagem. Guerreiros abatidos passam a conhecer que o inimigo morava ao lado. Chegam à desnorteante conclusão que enquanto lutavam com as melhores armas, sonhavam com os melhores sonhos, combatiam com os melhores propósitos, ao lado arquitetava-se o ultraje futuro, a traição futura. Abatem-se sobre eles um vexame maior que a própria derrota. Felizes daqueles que diante da frieza explicitada bendiz a derrota. Porque lá no seu íntimo bem sabe, que dor maior seria a de ser partícipe na construção de uma catástrofe. De levar ao topo para mandar homens frios e insensíveis. Felizes daqueles que se permitem as perguntas que parecem não calar: Se apunhala os seus, o que faria com os demais? O que faria com o território pelo qual travamos a dura batalha? O que faria com a riqueza desse território?
Passam a reconstruir cada passo dado sob a desolação que causa as incertezas. Nessa reconstrução, a vontade de pedir desculpas se mistura ao desejo de ter a força dos começos, vontade de recomeçar, de gritar, de ser a voz daqueles que mesmo tendo bocas silenciam, de apontar o caminho e conduzir aqueles que mesmo tendo olhos nada vê. Então, ciente dos limites se permitem a olhar no olhar de cada jovem, de cada homem, de cada mulher na esperança de vislumbrar onde repousa a transformação que virá. Um dia virá!
Tenho muito condenado a permissividade dessa minha gente. Está de joelhos, a dizer amém pra tudo tem nos feito experimentar anos após anos, o acre sabor do nada, do ostracismo, da sensação de “café com leite.” O saque eterno ao nosso patrimônio não finda. Em dois mil e cinco escrevi em DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA: “E quem se importa se o sonho morre? Se a história morre? A vida morre? Causa mortis? Insanidade, subserviência, arrogância e avareza. Procura-se uma saída. Onde é a saída? No voto? No látego? No ônibus? A velha terra de vergonha chora. Diante do opróbrio, fica pálida a velha terra.” Aliás, a imensa maioria dos filhos deste chão parece condenada a viver para sempre assim, do outro lado da história. Parece não haver saída alguma.
Onde é a saída? No voto? No látego? No ônibus?
Onde é a saída?
* Jota Jota Sousa é escritor e poeta