
Opinião: Lições de fé e de vida

Por Gutemberg Rocha
(do Instituto Histórico de Oeiras)
A lembrança mais antiga que guardo de Maria Oliveira, falecida em 26 de dezembro de 2013, aos oitenta e oito anos de idade, remonta a 1968, quando fui seu aluno de aula particular. Eu tinha onze anos e cursava a 5ª série primária no Grupo Escolar Costa Alvarenga. O reforço tanto me valeu que obtive média suficiente para ingressar no Colégio Farmacêutico João Carvalho sem precisar submeter-me ao Exame de Admissão, na época uma espécie de “vestibular” para o Ginásio.
Dinda, como muitos a chamavam, era amiga da minha família e me tratava com carinho maternal. Morava na casa de seu Totonho Freitas, um antigo casarão que posteriormente veio a ruir, igual a tantos outros tesouros arquitetônicos de Oeiras, restando hoje apenas o terreno invadido pelo mato. Além do valor histórico, o casarão tinha para mim um valor sentimental imensurável, porquanto ali recebi importantes lições da mestra querida.
Aprazia-me sobremaneira visitá-la, embora eu não soubesse o que conversar. A ela, porém, as palavras não faltavam. Palavras que me serviram para a escola, para a vida e para a minha caminhada de fé. Lembro-me da sua felicidade quando decidi ser padre. Deu-me conselhos valiosos e disse que não se esqueceria de mim em suas orações. Algum tempo depois, ao deixar o Seminário, contei igualmente com seu apoio e compreensão.
Maria da Conceição Oliveira: catequista, professora, bandolinista... Acima de tudo, uma mulher de fé. Nutria-se continuamente da Palavra de Deus e da Eucaristia. Inspirada em Maria de Nazaré, disse sim ao Pai, dedicando a vida à prática do bem, à evangelização e ao seguimento de Jesus Cristo, cujos ensinamentos guardava e meditava no coração. Embora não tenha se casado e concebido filhos, tinha um coração de mãe, e acolheu como seus os filhos que Deus lhe confiou para criar.
Por circunstâncias diversas passamos a nos ver apenas esporadicamente, e só voltei a visitá-la com maior frequência quando ela, tomada pela enfermidade que lhe minava as forças, passava por momentos de angústia e dor. Foram anos de sofrimento, que ela suportou com bravura e resignação. Sem querer comparar, vê-la em tal situação me fez lembrar o sofrimento de Cristo no Horto das Oliveiras.
Não ouso repetir as palavras elogiosas que ela me dirigiu num dos nossos últimos encontros. Não as mereço. Foram palavras brotadas do seu coração generoso, no qual tive o privilégio de ocupar um lugarzinho especial. Agradeci a gentileza e disse-lhe da minha admiração e do meu amor por ela. Rezamos juntos, eu, ela e minha esposa; cantamos uma jaculatória para a Imaculada Conceição, e no meu íntimo roguei ao Senhor que afastasse dela aquele cálice. Como a adivinhar minha prece, ela me sorriu, e vi nos seus olhos a luz de quem tem um coração semelhante ao Coração de Jesus.