
Falece em Oeiras, Maria de Souza Feitosa aos 83 anos
01/05/2025 - 07:33Matriarca da família Feitosa enfrentava uma doença pulmonar e deixou filhos, netos e bisnetos
No mês dedicado à Consciência Negra, o Mural da Vila apresenta a série de matérias especiais "REPRESENTATIVIDADE", na qual compartilha histórias de homens e mulheres negros que desempenharam e continuam a desempenhar papéis importantes na história de Oeiras.
Conheça a história de INÁCIO VIEIRA DA SILVA, um homem negro, natural de Colônia do Piauí, mas que fez história em Oeiras como importante mestre de obras na cidade. Descubra mais sobre a trajetória de INÁCIO TRINTA.
INÁCIO VIEIRA DA SILVA, filho de Pedro Vieira da Silva e de Emília Francisca da Silva. Nasceu no dia 14 de agosto de 1941 em Colônia do Piauí. Foi o terceiro filho de 11 irmãos: Sebastião Vieira da Silva (in memorian), Maria Emília Francisca da Silva (in memorian), Inácio Vieira da Silva (in memorian), Júlia Vieira da Cruz, João Vieira da Silva (in memorian), Antônia Vieira Supriano, Francisco das Chagas Vieira da Silva (in memorian), Raimunda Vieira da Silva (in memorian), Maria da Natividade Vieira, Ivaneide Vieira da Silva (in memorian) e Maria de Fátima Vieira da Silva.
Inácio casou (no ano de 1970) com a professora (hoje aposentada) Maria Creusa dos Santos Vieira. Tiveram 03 filhos: Maricleyd dos Santos Vieira (Pedagoga e Especialista em Psicopedagogia), Pedro Cláudio dos Santos Vieira (Doutor em Estruturas e Construção Civil, Engenheiro Civil) e Marinacy dos Santos Vieira (Profª. Especialista em Letras Espanhol; Graduada em História). Tem 02 netos: Elias Victor Meira Vieira e Adele Maria Meira Vieira (?lhos do Pedro Cláudio).
Teve uma infância humilde, simples, mas com responsabilidades, onde dos 08 aos 12 anos de idade, ajudava seu pai nos afazeres, confeccionando celas e sandálias de couro, ajudando na roça, cuidando dos irmãos mais novos. Gostava de jogar futebol com seus amigos Luiz Marreca e Luiz de Janja. E sua irmã Fátima, conta que o Inácio quando adolescente gostava de desenhar as plantas das casas existentes.
Quando completou 18 anos, com o primário incompleto, o Inácio foi servir o exército, junto com seus amigos. Prestou serviço militar servindo o tiro de guerra, nº 199, com tempo incluído em 15/02/1960 e excluído em 17/11/1960, com graduação de soldado. Aprendeu algumas habilidades de construção de estradas, pontes. No exército, tinham outros “Inácios” e para diferenciar enfatizavam o número trinta, da lista de chamada. Assim nasceu o “Inácio Trinta”, nome de guerra.
Ao retornar do exército, continuou a jogar futebol e teve um comércio em frente a Maria Soares em Colônia do Piauí, onde colocou sua irmã Antônia para ser a vendedora, porém por ser muito amigo das pessoas na cidade, deixava anotar as compras fiado, tendo prejuízo e fechou a mercearia. Logo em seguida foi trabalhar em Barra do Corda. Com o falecimento de seu pai, retornou para Colônia para cuidar da mãe Emília e irmãos, vendeu a roça e comprou um terreno na cidade, construindo a casa da família, junto com seu irmão Sebastião e Maria da Natividade. Logo em seguida, quando veio do Barra do Corda, foi morar em Oeiras, onde constituiu família com a Maria Creusa.
Quando sua irmã Júlia da Cruz, ficou viúva, o Inácio se tornou tio/pai e adotou os sobrinhos: Regina Lúcia (in memorian), Elza (Maninha), Ivete, Elisete, Francisco Williamy. E também adotou os filhos de sua outra irmã, Fátima: Maritânia, Antônio Luiz e Rafael. E ainda criou em sua residência em Oeiras, por um tempo o sobrinho Claudionor Vieira, filho de sua irmã Antônia. Adotou os sobrinhos com amor e cuidados de um pai. Todos os sábados ia para a Colônia do Piauí, ver a mãe, a família, os sobrinhos. Sua mãe já ficava esperando, cedo da manhã, com o chá que o Inácio gostava. Quando chegava, saía do carro com muitas coisas, mantimentos, presentes, depois sentava para conversar com todos, saber como estavam, dava o apoio que precisavam. Dava conselhos e bronca quando necessário. Os sobrinhos tinham respeito e obedeciam suas ordens. Tinha costume de juntar durante a semana as moedas que recebia, para quando fosse à Colônia, todos os sábados, distribuir com os sobrinhos, gostava de ver a alegria das crianças. Relata sua sobrinha Elza (Maninha) que sente muito falta de seu tio, seu segundo pai, sempre que vem a Oeiras, sente a sua ausência, falta de seus cuidados, carinho, apoio.
Todos que o conheciam no tempo de rapaz em Colônia do Piauí, comentam que o Inácio foi um homem muito gentil, um bom filho, gostava das pessoas, era acolhedor, solidário com a família e tinha muitos amigos.
Casado com a professora aposentada Maria Creusa Gomes, o Inácio era um homem trabalhador, nunca deixou faltar nada em casa. Era um pai raiz, criou os filhos com éticas, com atenção, respeito. Deixou um legado de conselhos, exemplo de dignidade. Incentivou os estudos de seu filho Pedro Cláudio em Teresina, ao qual seguiu os passos do pai para construção civil, onde o deixou muito orgulhoso. Era um pai presente, sempre viaja para estar com o ?lho e acompanhar os estudos.
No início do casamento, o Inácio foi trabalhar no BEC, 2º Batalhão de Engenharia de Construção, no Maranhão, aqui aprimorou seus conhecimentos na construção civil. Depois, em 1974 foi para Tucuruí, no Pará, onde passava 3 meses e passava 1 semana em casa com a esposa. Retornou de?nitivo para Oeiras, no final do ano de 1977.
Suas habilidades chamaram a atenção do senhor Zeno Lopes, que na época da construção da galeria, estava precisando de alguém com seus conhecimentos. Relata seu Zeno Lopes que, “quando o prefeito B.Sá e eu, resolvemos fazer a galeria da Baixa do Cururu, colocamos um engenheiro, mas passou um mês com 25 operários e sem conseguir fazer nada de obra. Fiquei com medo de chegar o inverno e não ter nada feito de galeria, falei com o prefeito, que perguntou se eu tinha coragem de tocar a obra, eu respondi que sim. Nisso falou para eu arrumar outro serviço para o engenheiro e procurar alguém para me ajudar como mestre de obras, fiquei mentalizando em quem chamar, aí veio a memória do Inácio. Convidei ele, e dei total liberdade dele tocar a obra, colocar quem quisesse como pedreiro. Na época o serviço era pago por produção, não era por diária. Era por metros quadrado, por metro linear. O Inácio media toda a obra, resumia e dividia tudo para o pagamento dos funcionários, que era feito na prefeitura, mas pelas mãos dele Inácio. Era muito inteligente e honesto o Inácio. A galeria da baixa do Cururu da Rui Barbosa até a Transamazônica foi feita em 5 meses. Depois quando o B.Sá era deputado federal, conseguiu uma verba em Brasília para ampliação da galeria até a Rua Sol Nascente. As águas desciam pela rua alagando tudo, invadia as casas. Fizemos a galeria e em cada casa uma passarela. Começamos a obra descendo da rua Sol Nascente até encontrar e passar por um túnel construído por baixo do Santaninha. Tudo isso foi seu pai Inácio que fez”.Lembra ainda que, “Inácio também ajudou a construir muitas escolas no interior e cidades vizinhas que na época pertenciam a Oeiras. Sabe que tamanho era o município de Oeiras nessa época? São João da Varjota, Tanque, Santa Rosa, Cajazeiras, Colônia, era grande a região, nós trabalhamos nesses lugares, o Inácio ia comigo”. “O Inácio Trinta era um homem paciente, organizado e responsável, nos damos muito bem, nunca discutimos, o trabalho era tudo conversado, ele era muito inteligente, tá fazendo muita falta”.
Em 2008 o Inácio Trinta estava trabalhando em algumas construções na cidade de Inhuma. E um dia sentiu dores e mal-estar, tendo um começo de AVC. O pessoal da firma comunicou a família, onde sua filha Marinacy, e seu sobrinho Jadson, acompanharam o translado para Teresina, onde o mesmo foi internado no Hospital São Marcos. Passou 02 dias em coma, mas teve melhora, passando 10 dias internado. Retornou para Oeiras, e teve uma ótima recuperação e cuidados em seu lar, com esposa e filha. Foi refazendo o que mais gostava, fazer os desenhos das plantas de casa e acompanhar obras. Não como antes, mas conseguia em menor quantidade.
Em 2010 teve que colocar marca-passo no coração. Suas habilidades tiveram que ter menos esforço. Mas conseguiu se recuperar novamente. Também conseguia fazer suas plantas de casa. No ano de 2012, teve seu momento de alegria no dia dos pais, 12 de agosto, recebeu presentes, abraços. No dia do seu aniversário, dia 14 de agosto, acordou alegre, estava reformando uma parte de sua casa. Recebeu o abraço de esposa e sua filha Marinacy (os outros filhos moravam em outras cidades). Mas passou mal, no seu aniversário, os movimentos das pernas veio a falhar. Foi o momento de correria em casa. No hospital Regional de Oeiras, constatou além da falha nas pernas, a dificuldade nos rins. Transferiu para a UTI no Hospital São Marcos em Teresina. Fez a cirurgia de uma trombose na perna esquerda, a qual os movimentos retornaram com 2 dias. Ainda internado, ficou bem, sorria, conversava com as enfermeiras e sua filha, mas depois veio a necessidade de uma hemodiálise. Melhorou. Conversou alegre com a filha, abraços. Mas no dia 19 de agosto, os rins não aguentaram. Se despediu da vida, foi descansar nos braços do Senhor Jesus. “Eu, Marinacy, não fui avisada que meu pai tinha falecido. Ligaram do Hospital, dizendo que tinha passado mal. Fui às pressas. Cheguei fui logo pelo elevador, estava passando para o quarto, quando vi, aquele homem grande em uma maca, sendo levado para outro lugar. Voltei e vi que era meu pai, sem vida... meu corpo sumiu, a visão ?cou embasada. E naquele momento eu senti o vazio mais angustiante de minha vida, minha mente foi de minha infância para aquele momento, o que eu ia fazer sem meu pai? Quem iria me chamar de Nacynha? Lembrei que sempre tive meu pai como uma rocha, nunca o vi triste, nem chorar. Mas no dia que minha avó, sua mãe morreu na Colônia, eu era adolescente, vi meu pai sério, resolvendo tudo, mas quando chegou o momento do adeus, no seu leito eterno, vi meu pai se afastar e debaixo de uma árvore desabar em lágrimas. Eu não sabia como era essa dor, mas perder meu pai, nesse momento entendi a dor da saudade que ele sentiu, pois eu estava sentido por ele...”.
Inácio Vieira da Silva, o Inácio Trinta, nasceu no dia 14 de agosto de 1941, faleceu no dia 19 de agosto de 2012, aos 71 anos de idade. Deixou sua família, parentes e amigos com saudade e um legado de honra e dignidade.
INÁCIO TRINTA - referência em construção civil
Referência profissional na área da construção civil, Inácio Vieira da Silva, popularmente conhecido como “Inácio Trinta”, começou sua vida laboral trabalhando no Hospital Regional Deolindo Couto, em Oeiras. Logo depois, mudou-se para Brasília-DF, onde trabalhou na construção dos ministérios. Em seguida, trabalhou no 2° Batalhão de Engenharia de Construção – Exército Brasileiro, no Estado do Maranhão. Entre 1974 e 1977, atuou na construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Retornou para Oeiras, no ?nal do ano de 1977.
Conta sua esposa Creusa, que o Inácio era autodidata, fazia as plantas das casas e construções estudando sozinho através de algumas enciclopédias de matemática e Construção. E no ano de 1978, estudou 8 meses por correspondência, o curso de Desenho Arquitetônico, pelo Instituto Universal Brasileiro. Assim aprimorando seus conhecimentos.
De volta a Oeiras, já como mestre de obras e desenhista arquitetônico renomado, fez muitas plantas de casas em Oeiras e região, acompanhando a construção, trabalhou na construção da galeria para escoamento dos esgotos, conhecida como Baixa do Cururu. Em seguida, atuou na edi?cação da cruz do Morro da Cruz, na drenagem do campo do Estádio Municipal Gérson Campos e em diversas construções: ginásios Santaninha e Juarezão, cemitério Campo da Esperança, igrejas Sagrada Família e São Vicente; Fazenda da Esperança e ampliação da ponte sobre o Riacho Pouca Vergonha.
Também atuou em obras no Contentamento, zona rural de Oeiras, e nos municípios de São João da Varjota, Bom Jesus e Barra D’Alcântara. As duas últimas obras conduzidas por ele foram: a reforma do Centro Diocesano Dom Expedito Lopes (Antigo Frei Jordão) e a reforma da 1ª Igreja Batista de Oeiras, entre 2011 e 2012.
O prefeito José Raimundo inaugurou no dia 14 de Agosto de 2017, aniversário de 76 anos de Inácio Trinta, a obra de reforma e ampliação do Mercado Municipal do Bairro Oeiras Nova. O prédio recebe o nome do mestre de obras Inácio Vieira da Silva (Inácio Trinta), autodidata e notável trabalhador da construção civil, que participou da edificação de diversas obras em Oeiras e outras cidades do país. Em nome da família, a filha de Inácio Trinta, Maricleyd Vieira, agradeceu pela homenagem. “Quero agradecer, como filha de Inácio Vieira da Silva, e em nome do restante da família, pela homenagem de lembra-lo como uma pessoa que prestou serviços à cidade de Oeiras”, comenta. A solenidade de inauguração contou com a presença de familiares de Inácio Trinta, autoridades locais, permissionários do centro comercial e membros da comunidade.
Texto: Marinacy Vieira (Mary Gomes)