
Um Ãdolo de minha infância
(*) Ferrer Freitas
Faleceu no domingo 6 de abril, nesta Teresina onde residia há muitos anos, o oeirense Roseval de Moraes Rego. Eram seus pais Luiz de Moraes Rego, conhecido de todos como Luiz de Rodolfo, assim mesmo com o nome do pai, Rodolfo, associado ao prenome, como é comum na velha terra, e dona Maria de Lourdes Portela Rego, pessoas que marcaram suas vidas em Oeiras de forma ativa e participativa, bem assim pela devoção ardentíssima ao Divino Espírito Santo. Tiveram onze filhos , mesmo número lá de casa, lamentavelmente agora restritos a oito, por Antônio e José também já se encontrarem do outro lado do grande mistério, como eufemisticamente o grande Machado de Assis aludiu ao que vem após a morte . Os de meu tope, como era comum dizer-se quando alguém queria referir-se, na pós- adolescência, a diferenças de idade em torno de dois ou três anos, foram: Rodolfo, Afonso, Socorro e Espírito Santo. Depois vem o caríssimo Francisco Rego, parceiro, como Espírito Santo também o foi, de lides no Instituto Histórico pela preservação da memória cultural de Oeiras.
Mas, a lembrança indelével que guardo do já saudoso Roseval é a de zagueiro central do Cruzeiro, clube da minha infância, isso nos dourados anos cinquenta. Sabia sair jogando, tocando a bola para o passe certeiro. Não era o que mais tarde se convencionou chamar “zagueiro-zagueiro”, aquele que só sabe rebater. Nunca esqueço de partida contra o rival maior (e único), o Mafrense, numa tarde de domingo de mil novecentos e tantas lembranças, como gostava o poeta Gerson Campos de referir-se a fatos inesquecíveis do passado. A formação era assim: Albérico, Pedão (Pedro Francisco) e Roseval; Pedro Manguleta (de Floriano), Lindolfo (Nunes) e Zé Wilson (Maranhão ); Ditinho (Benedito Reis), Ângelo de Natu , Tõin de Aderson (Antônio Amorim), Rodolfo (Rego) e Rodolfo (Pereira). Para minha alegria estou na foto tirada antes dessa partida, agachado ao lado do bom ponta direita Ditinho, que mostra com três dedos da mão direita qual seria o placar, que se confirmou ao final, 3 x 0. Outra curiosidade é a presença de tantos Pedros na foto, seis ao todo: Pedro Amador, Pedro Velho (de Chiquinho Moreira), Pedro Campos, os já citados atletas Pedro Francisco e Pedro Manguleta e, finalmente, este Pedro Ferrer, que, ao contrário do que acham uns tolos, não faz a menor diferença entre negros e brancos, pobres e ricos, políticos e não-políticos. Sobre estes últimos, vale até dizer que nunca tive domicílio eleitoral em Oeiras.
Guardo ainda boas lembranças do tempo de namoro de Roseval com a caríssima e dócil Maria das Dores Ferreira Freitas, a Dorinha de todos, irmã de Raimundinha, Teresinha , Durval e Dirceu, estes dois, queridos parceiros de rodas de papo no Passeio Leônidas Mello, de serenatas e, mais importante, da mesma série no glorioso Ginásio Municipal Oeirense. Sobre o namoro, tenho pra mim que a proximidade das casas de morada, na Tibério Burlamaqui, concorreu decisivamente para o início, consumando-se com o matrimônio dos dois, por sinal parentes meus: ele pelo lado de dona Lourdes. Ela, Dorinha, do pai, tio Totonho. Que Deus tenha o querido Roseval na sua guarda “per omnia secula seculorum”.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras