Uma Efeméride A Ser Lembrada
*Por Jota Jota Sousa
Em 1958, Juarez Tapety, pisava pela vez primeira no acidentado terreno da política praticada na primeira capital, elegendo-se vereador. Quatro anos depois, tornava-se prefeito. Portanto, este ano, completam-se cinquenta anos que Juarez Tapety, administrou Oeiras pela primeira vez. 1962. É sim, uma efeméride a ser considerada. A velha capital assistia o surgir de uma liderança política que marcaria sua vida, daquela metade de século até os dias atuais. “Eu vou fazer política!” “Eu vou fazer política! Comunicou aos amigos que à época enveredavam por caminhos tidos como mais promissores, medicina, engenharia, direito e outros.
Na convicção e determinação em abraçar este ofício esteja talvez, a explicação para o êxito de sua trajetória. Alia-se a isto, a maestria com que este inaugurou e vem imprimindo ao longo dos anos um estilo peculiar de fazer política, valendo-se de qualidades inerentes somente aos grandes líderes da história recente, o carisma pessoal, um esmerado poder de comunicação, tino aguçado, fidelidade aos seus pares, olhar a frente do seu tempo e é claro, muita sagacidade.
Em face da referida efeméride venho participar a todos os oeirenses e demais piauienses que pleiteei junto a este e aos seus, a honra de organizar em livro sua vida pública. E sinto-me grato pelo crédito da confiança. Como tem sido surpreendente trilhar pelos caminhos de tão interessante trajetória. Caem sofismas, verdades são confirmadas, dissipam-se dúvidas, rótulos saltam do subjetivismo.
Este é o meu primeiro experimento de biografar, uma tarefa que equivocadamente, muitos não veem com bons olhos por achá-la invasiva, bisbilhoteira da vida alheia ou coisas do gênero. Porém, é como um arqueólogo frente a um precioso achado, ou um menino a trocar figurinhas no afã de encontrar a que falta no seu álbum que vou juntando as peças que comporão o volume que pretendo entregar em breve aos cidadãos deste chão querido.
-Não sou santo! Alerta-me sempre que o encontro. Erros, equívocos e falhas existem em qualquer trajetória. Com Juarez Tapety não é diferente. Mas a verdade é que pela lei natural das coisas, só logram êxito aqueles em que seus acertos são em números consideravelmente maiores.
Cheguei à casa do Senhor Acelino Praça que foi seu vice prefeito naquele 1962, e ao expor-lhe o objetivo de minha visita, este, do alto dos seus noventa anos, silencia, me fita por instantes, seus olhos ganham um intenso brilho e me diz em seguida: “Um político nato. E acima de tudo, .humano. Muito humano!”. Silencia novamente. Parece buscar lembranças. “ Jamais conseguirei meu objetivo colhendo apenas frases como esta, embora ditas com tanta sinceridade e desprendimento” disse com meus botões. Cuidei de esperar e valeu a pena.
No pórtico deste trabalho está o texto LIÇÕES DE UM ANOITECER onde tracei o seguinte sobre o ano de 1982: “Os eventos políticos em Oeiras sempre ocorreram de forma extremada porém previsível. O daquele anoitecer, fugiu a toda esta previsibilidade, de vencidos evadirem-se pelas tangentes, refugiarem-se em fazendas ou em desabada atirarem-se rumo a capital Teresina. Seus partidários atônitos, esgueiravam-se pelas laterais da praça. Os laços com as sucessivas vitórias haviam se rompido e amargavam agora o acre sabor de uma derrota.
Na luta do homem pelo poder está arraigada a luta contra o ostracismo e o esquecimento. E esta luta tem apenas duas faces e as duas tem o mesmo poder de desnudá-lo. Mas é perante a face da derrota que em muitas vezes o conhecemos de verdade. Existem homens que lutam com boas ações, gestos e realizações. Boas ações são disseminadas, belos gestos alimentam lembranças, realizações os eternizam.
Anoitecera. A cidade encontrava-se sob um intenso foguetório. Na ala sul do Largo das Vitórias, despercebido, um palco montado. Estava ali desde a última manifestação pública a espera talvez de mais uma vitória, que não veio. Eis, que é visto a atravessar a praça, ciceroneado por alguns correligionários o deputado Juarez Tapety. Passos firmes, fronte erguida rumando em direção ao palanque até então esquecido. Um serviço de som é improvisado e este se fez ouvir. “Oeirense!” fez a costumeira saudação. Em seguida agradeceu os votos recebidos pelo seu candidato, fez alguns vaticínios sobre os anos seguintes e o novo administrador. Em certo momento, ao reafirmar o compromisso com as causas de Oeiras, sua voz embargou, calou-se por instantes, cerrou o punho direito e o levou ao peito massageando-o. Os partidários silenciavam.
O fato é que intuitivamente (ou ciente daquele gesto) ao armar palanque naquele sombrio pântano da derrota foi sim, didático e uma ação carecedora de profunda reflexão. Naquele anoitecer se confirmava uma máxima que vingaria pelos embates seguintes: “Os cinco mil votos de Juarez são intocáveis!”
Nenhum prognóstico, nenhuma sondagem a partir de então poderiam ser feitos sem levar em conta os cinco mil votos de Juarez. Ele, os manteriam realmente intocáveis ao passar dos anos, inclusive no hiato que seu grupo ficou fora do poder local, até repassá-los aos seus sucessores. Mas, isto é outra história.”