
Além do fato: nas asas da mentira, é feliz quem vive aqui!
Até parece implicância, dirão alguns. Eu mesmo às vezes me pego pensando também que se trata de marcação contra o governo. Afinal, pra que tanta crítica? Mas não é isso. É que esse governo erra demais, erra tanto que eu fico até constrangido em ficar apontando todos os seus erros. E, na arte da dissimulação, ele é imbatível.
Então, faço vista grossa para muita coisa. Mas outras, infelizmente, não podem passar ao largo, pois saltam aos olhos. É o caso, por exemplo, do Aeroporto de São Raimundo Nonato, que será oficialmente inaugurado na próxima segunda-feira, na abertura do
Festival Internacional de Arte rupestre.
Primeiro, o governo disse que se tratava de um aeroporto internacional. Mas não é nem um aeroporto, muito menos internacional. Trata-se, na verdade, de um aeródromo. Aeródromo e aeroporto são coisas parecidas, como peba e tatu, mas muito diferentes, também, como peba e tatu.
Veja as definições de ambos, segundo o Regulamento de Tráfego Aéreos para Vôos, de Paulo Roberto Almeida, publicado pela Escola de Aperfeiçoamento e Preparação da Aeronáutica Civil, homologada pelo DAC (Departamento de Aviação Civil):
“Aeródromo – área definida sobre terra ou água, destinada à chegada, partida e movimentação de aeronovas”.
Aeroporto – aeródromo público dotado de instalações e facilidades para apoio de operações de aeronaves e de embarque e desembarque de pessoas e cargas”.
Trocando em miúdos: em São Raimundo Nonato, não existe aeroporto. Há um simples aeródromo. É só uma pista, sem torre de controle de tráfego, estação metereológica, segurança de vôo, casa de passageiros, sem balcões de atendimento, lanchonetes, cabines telefônicas, sanitários, . É pura improvisação. E é aí que vão receber pesquisadores e turistas de 39 países. Uma coisa é certa: poucos ainda voltarão ao Piauí!
E mais: que história é essa de “aeródromo privado”? Pelo visto, não passa de uma gambiarra para conseguir a autorização da Anac. Nunca esse aeroporto foi apresentado como particular. E onde está a licitação para entregar de mão beijada, a uma empresa privada, o “aeroporto” construído com recursos públicos?
A tragédia de Algodões resultou de uma sucessão de malabarismos midiáticos como esses. O governo se preocupou mais em fazer pantomimas do que em fazer os consertos da barragem e pôr as famílias em segurança. Deu no que deu!
* ZÓZIMO TAVARES é Editor-Chefe do Jornal Diário do Povo