
Algodões: uma pergunta em aberto
Era uma bela paisagem no vale do rio Piranji, com muitas plantações aproveitando as águas que vazavam da barragem Algodões. Não somente no povoado Franca, mas também outros povoados que neste vale viviam uma vida tranqüila. Porém, sempre havia um certo suspense em relação à barragem. Esta interrogação pairava na mente de muitas pessoas da região de Cocal. Pessoas que não tivessem título acadêmico, mas pessoas de bom senso, de amor à honestidade que acompanharam a construção da barragem, e viram com os próprios olhos o material utilizado para erguer aquela parede de mais de 50 metros de altura.
Mesmo quando um técnico vindo de longe deu o parecer que não haveria risco nenhum, os mais prevenidos não acreditaram e salvaram assim as suas vidas. Porém, aquelas que retornaram às suas casas, confiados em laudos técnicos, mesmo que tenham escapado com vida, nada lhes restou para o seu sustento e sobrevivência. Nem colher, nem prato, nem peças de roupa conseguiram carregar na hora do grito, quando as águas já estavam chegando.
“A necessidade e o sofrimento unem mais do que a fartura.” Isso foi provado novamente. Quanta solidariedade presenciei no meio do povo de Cocal, do nosso Piauí e de outras partes do Brasil, assim como também as autoridades públicas. Algo bonito que edifica a nobreza de nossa gente.
Porém, diante do ocorrido, ficam perguntas abertas: quantos açudes e barragens temos no nosso Nordeste? Umas até construídas ainda no tempo do império! E uma barragem que foi construída há dez anos não resistiu à força das águas das chuvas. – Por quê? O material que constava nas planilhas da construção foi efetivamente aplicado?
Em regimes totalitários, a verdade dos fatos sempre foi camuflada. Hoje vivemos em plena democracia. Cremos, portanto, que a sociedade tem o direito de conhecer a verdade. Tantos povoados foram arrasados, onde moravam muitas famílias. Diante de uma tragédia tão grande, fica difícil acreditar que foram apenas seis ou oito as pessoas que perderam a vida. Será que existe medo da verdade?
Será que esta barragem agora não tem mais dono? Ou está se pensando que este povo não tem direito a uma indenização justa?
* Dom Alfredo Sháffler é bispo diocesano de Parnaíba.