
As coisas não eram bem assim

(*) Ferrer Freitas
Dia desses um parceiro de papo disse-me algo que calou fundo: “está próximo o dia (se não já ocorre) em que nos encontros de pessoas o que menos se ouvirá é o papo agradável, a conversa descontraída.” E concluiu: “tudo não passará de rodas de mudos.” No primeiro momento duvidei da afirmativa, mas cá estou a estender a mão à palmatória, como se costumava dizer de algo inevitável. Realmente é comum ver-se em derredor de mesas, geralmente de restaurantes, pessoas da mesma família, cada uma tendo à mão um celular adaptado a aplicativo de mensagens dessa coisa chamada “Whatsapp”, usado à exaustão no mesmo plano de dados da Internet para e-mails e navegação. E o que é melhor (para eles), sem nenhum custo no envio de mensagens.
Pois é o que vem ocorrendo. Sem mais nem menos perde-se o hábito da conversa agradável, da troca de opinião sobre assuntos palpitantes. As pessoas limitam-se à presença física. Não interagem umas com as outras. Segundo o mesmo parceiro, essa situação vem se agravando a cada dia, o que deve ser um suplício para os palradores infatigáveis que pouco podem fazer, pois não são indagados para nada, sobretudo os que repetem as mesmas piadas, muitas sem nenhuma graça.
Até aí tudo bem. Agora o que não é possível, em hipótese alguma, é um aficionado nessa coisa assim proceder de forma imprópria e perigosa, como ocorreu recentemente comigo ao pegar um táxi. O motorista, celular adaptado ao “Whatsapp” posto sobre o banco, entre seus joelhos, dirigia como se nada estivesse ocorrendo. Era um olho no padre e outro na missa, para usar uma expressão tão ao gosto de muitos. A desatenção chegou ao ponto de alguns semáforos fecharem e ele só se dar conta da abertura avisado por mim. Não tive outra saída. Com medo do pior, pedi-lhe que parasse pois chegara ao destino. Ufa, que alívio! Ora, se já não se deve dirigir falando ao celular, imaginem lendo mensagens enviadas!
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras