
Qual a diferença entre Prestação de Contas e Defesa Técnica?
06/06/2025 - 14:33Por Hielbert Ferreira – Advogado, Conselheiro Seccional da OAB-PI e Presidente da Comissão de Defesa dos Municípios da OAB-PI
(*) Por Ferrer Freitas
Certa vez alguém em roda no bar Café Oeiras disse em alto e bom som: “Oeiras não muda!”, frase ouvida do outro lado do Passeio Leônidas Mello, na calçada do Cine. “Não muda mesmo!”, respondeu um circunstante, desses que adoram contar o que mineiros e paulistas chamam “causos”, mas que, tratando-se da velha terra, prefiro chamar “oeiradas”. Aliás, diga-se, são bem melhor contadas pelo mano Bené, de nome literário Benedito Amônico, em homenagem ao nosso avô paterno, homem de muitos afazeres nobres, como disse em versos seu primo , desembargador Vidal de Freitas: “foi pintor, escultor, imaginário/mágico do buril/moldador, desenhista extraordinário/litógrafo excelendo a mais de mil.” Ressalta ainda seu lado de músico (“das musas, só Euterpe o embeveceu”). Tocava violoncelo e uma espécie de órgão, com pedais (harmônio), de muito uso nas igrejas de Oeiras. Aliás, “oeiradas” foi-lhe sugerido por este locutor que vos fala.
Bem, mas a propósito de que intróito tão cheio de arrodeios? É justo por conta de interessantíssimo texto do multimídia Joca Oeiras, postado no Portal do Sertão, de título “A Língua nossa de cada dia”, em que narra episódio burlesco, dando a entender que pode ter ocorrido em qualquer cidade pequena e conservadora. Trata de casal formado por rapaz do lugar e moça de centro adiantado que se sujeitou a acompanhá-lo quando de seu retorno às origens, concluídos os estudos. Só que, passado algum tempo , terminou levando-o de volta pela alegativa de total incompatibilidade com o que considerava hábito nocivo da terra, o disse-me-disse do dia-a-dia, tão comum em cidade pequena. Diz-se até, com gozação, tratando-se de alguém que se ocupa muito da vida alheia: "ô língua!"
E o que precipitou a volta foi banquete oferecido à nata da sociedade local, principalmente aos casais-parceiros de clube filantrópico, um banquete cujo cardápio era todo à base de língua, a saber: com farofa, alho-poró e pimenta, com batatas ao molho de vinho, defumada com ervilha e champignon, ao molho madeira, finalmente, língua com jiló. Aí, segundo o caro Joca, os convivas perguntaram: ”mas por que este festival de língua?”. Resposta incisiva da anfitriã: “é uma homenagem à língua de vocês. E fiquem certos, não tem veneno!”
Mas, a coisa não fica por aí. O texto mereceu de um leitor de nome Flávio José comentário que é um primor e merece transcrição: “Um nobre senhor mandou um dia seu criado ao açougue, dizendo-lhe: ‘traze-me o melhor bocado que lá encontrares’. Para atender fielmente ao pedido de seu amo, o servo trouxe-lhe uma língua. O nobre senhor mandou que as criadas a preparassem e assim se deliciou com o apetitoso bocado. Dias depois, chamou novamente o servo e recomendou-lhe: ‘traze-me agora, do mesmo açougue, o bocado mais desprezível que encontrares’. O criado foi depressa, pensou, e trouxe mais uma língua. Tomado de admiração, o seu senhor indagou-lhe: ‘que significa isso: pedi o melhor bocado e me trouxestes uma língua; depois pedi o pior bocado e me trouxestes também uma língua?’ Então o servo, que era sumamente sábio, explicou-lhe: ‘não me enganei, senhor. É isso mesmo: a língua é, ao mesmo tempo, tudo o que há de melhor e tudo o que há de pior no mundo. Pode causar os melhores bens na boca de uma pessoa boa e pode causar os maiores males na boca de uma pessoa má".
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras