Mural da Vila: 16 anos de jornalismo em Oeiras
16/09/2024 - 18:08Ao longo de 16 anos, a missão de levar notÃcias com responsabilidade permanece firme.
*POR JÚNIOR VIANNA
Culturalmente, temos a mania de valorizar ou rotular tudo aquilo que está à nossa volta, inclusive nós, seres humanos, não estamos isentos dessa categorização, pois somos classificados de acordo com sentimentos e interesses. Pode-se afirmar que, nos dias atuais, a maioria dos relacionamentos é permeada por interesse interpessoal, por mais implícito que isso seja. Sempre haverá alguém em busca de outra pessoa para preencher algo que falta em si. Não é um julgamento, mas um fato muitas vezes negligenciado por nós.
Conheço pessoas que se vitimizam para atrair a atenção de outras, da mesma forma que conheço outras que mentem de forma abusiva para obter notoriedade. Assim como existem aqueles que "compram" amigos com favores, fazendo juras de amizades eternas, mas esses relacionamentos costumam perdurar apenas enquanto um precisa verdadeiramente do outro, deixando uma das partes profundamente desapontada. As necessidades pessoais transformaram as pessoas em objetos com validade e importância determinadas.
Nesse cenário de incertezas da vida, surge a pergunta: até que ponto é necessário ser verdadeiro? E, com isso, outra inquietação se apresenta: será que devemos ser quantitativos ou qualitativos em nossas relações? Existem pessoas que se aproximam dos outros devido aos benefícios que podem obter, resultando em amizades baseadas na vaidade, na mentira e no interesse. Essas amizades tendem a durar menos do que um piscar de olhos! Há também aqueles que se aproximam dos outros buscando se beneficiar das qualidades alheias, alimentando relações pautadas na inércia, na inveja e, principalmente, na intenção de explorar o que não lhes pertence.
Diante disso, surge outra pergunta: até quando devemos nos entregar por completo ou apenas parcialmente nas relações com outras pessoas? De fato, há coisas na vida que não podem ser feitas de maneira superficial, como a verdadeira amizade, que não pode ser pela metade. Recentemente, ouvi de um conhecido que um "amigo" seu só o reconhecia em determinados lugares. Chegamos à conclusão de que essa pessoa não merece ser chamada de amigo. Da mesma forma, outra pessoa reclamou que fulano e beltrano só a procuram quando estão com problemas financeiros. Podemos dizer que essas pessoas também se enquadram no mesmo patamar do primeiro exemplo.
Às vezes, ou melhor, na maioria das vezes, é necessário ser inteiro quando somos cúmplices, quando nos colocamos no lugar do outro e não sentimos vergonha do que o outro é. Dessa forma, somos completos, tanto em corpo quanto em alma. No entanto, também precisamos ser metade, ou seja, metade de nós mesmos, para garantir que não estamos caindo em armadilhas ou nos envolvendo com aqueles que só querem o que temos ou o que sobra de nós.
Chega um momento na vida em que o que mais valorizamos nas relações não são as aparências ou as conveniências, mas sim o sabor de viver bem. É o sabor de um abraço verdadeiro, de um riso sincero e de ter alguém em quem podemos confiar, seja para tomar uma cerveja, seja para enfrentar dificuldades, seja para compartilhar lágrimas e, acima de tudo, seja para nos dar amor.
Amor! A busca incessante por reciprocidade nas relações interpessoais.
*Junior Vianna é historiador e Secretário de Cultura de Oeiras