
Vários povos, um Deus e a esperança de um mundo melhor A igreja vive e o jovem vive na igreja

*Por Elimar Barros
Que não me faltem palavras para registrar os fatos emocionantes vividos na JMJ Rio 2013!
O apelo surge contrariando a expressão corriqueira: “não tenho palavras para descrever o que sinto, tamanha é a grandiosidade do evento”. Em se tratando das emoções vividas e sentidas na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, gostaria que as palavras pudessem realmente traduzir essa vivência o mais aproximado possível do real para que todos aqueles que não tiveram a oportunidade divina que tivemos, possam viajar no interior desse texto e sentir através de suas palavras o que significa estar num encontro de Jovens do Mundo inteiro falando, em línguas diferentes, a mesma Língua.
Tudo começou há algum tempo quando da vinda da Cruz Peregrina e do Ícone de Nossa Senhora para nossa cidade. Aquele foi, para nós, o prenúncio do “Ide, e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt, 28,19). A Jornada efetivamente se faz sentir na semana que antecedeu a JMJ Rio 2013 quando fomos acompanhados (e acompanhar) o Pe. Kleyton na Semana Missionária levando o evangelho de Cristo para jovens das comunidades rurais de nossa paróquia.
A comunicação entre jovens diferentes – mesmo sensíveis diferenças, pois somos, ainda, do mesmo território - inicia-se no sábado 20 de julho - dia de nossa saída para o Rio de Janeiro, foi também o dia de encontros de jovens das várias paróquias que fazem a diocese de Oeiras. Foi um dia intenso de muitas atividades em torno de, e pela Palavra de Deus. Logo aqui, conhecemos pessoas, trocamos experiências, louvamos a Deus, caminhamos pelas ruas de Oeiras demonstrando o rosto vivo de Deus na alegria de nossa face; na atitude de Jovens que enfrentam o sol e o solo quente para mostrar que Deus Existe e que toda a alegria da Terra deve provir dele para poder se solidificar. Nesse mesmo dia, com o corpo cansado e a mente ansiosa, partimos em direção ao encontro com o Papa, Francisco, e a juventude católica do mundo inteiro.
Crônicas e crônicas podem ser narradas sobre o caminho até a Cidade Maravilhosa. E põe maravilhas, naquela cidade! Interessa-me, porém, aqui, discorrer sobre pontos memoriais dessa jornada. Sobre aquilo que despertou minhas emoções e afetou positivamente meu espírito; acreditando ter sido, também pontos marcantes na vida de todos os que participaram da JMJ Rio 2013.
As emoções começam a se disseminar em meu ser logo na acolhida calorosa que tivemos em plena madrugada fria do sudeste brasileiro. Íamos apreensivos em função do horário imaginando se haveria gente para nos receber. E, logo ao chegarmos na Paróquia Mãe da Divina Providência, estavam eles lá - os voluntários - providencialmente nos abraçando, nos ajudando com as malas e nos dando boas-vindas! Seus sorrisos eram tão largos que nem parecia ser 3 horas da manhã.
Mais largo, ainda, foram os sorrisos e abraços estrangeiros na manhã seguinte de um sol que não apareceu no Sambódromo do Rio. Enquanto esperávamos nosso coordenador com nossos Kits, conhecemos e conversamos com jovens de diversas culturas; não me perguntem como era essa conversa... o fato é que Deus estava ali e nós nos entendíamos muito bem, por Ele. Lembro-me bem de observar que no meio de um sambódromo nós dançávamos forró, com os gringos! Até quadrilha dançamos! Era a sanfona nordestina e oeirense fazendo sucesso com músicas que louvam a Cristo e à sua e nossa mãe Maria! Penso que essa sanfona foi um grande condutor de nossos diálogos com povos de outras línguas durante toda a Jornada. O poder da música é universal, a música cristã, então...!
À noite daquele mesmo dia, a emoção não tem tamanho, ultrapassa os limites do coração como O Cristo representado no logo dessa Jornada. Era a missa de abertura! Sentada ou em pé nas areias de Copacabana que estavam invisíveis, a sensação era a mesma! O mar, também, não podia ser visto, tudo era gente: católica, cristã. Naquele instante a realidade veio a mim! __Senhor, onde estou! Que maravilha! Obrigada, meu Deus!
As orações foram surgindo nas mais diversas línguas em torno de nós, os arrepios de bênçãos, de dádivas foram tomando conta do meu ser, e fui sentindo Deus cada vez mais Vivo dentro de mim! O Pai Nosso, a Ave-Maria, o Credo, e muitas orações em vozes de idiomas diferentes que começavam juntas; as línguas se misturavam e tudo virava um eco lindo e profundo que invocava o mesmo Deus. O interessante é que ou nós ou eles (os estrangeiros que estavam perto de nós) terminavam uma ou outra oração antes, como se a depender da língua a oração se prolongasse por mais tempo. Com a voz melodiosa e linda de uma jovem com cara de jovem no altar, a lágrima continuou, mais intensa, a escorrer pela minha face e de muitos dos meus amigos peregrinos a cada verso do salmo do dia!
Essa emoção do primeiro dia se fez presente em todos os momentos da Jornada, intensificando-se a cada nova vivência, inclusive quando tivemos a oportunidade de vermos e ouvirmos O Papa Francisco, de pertinho, derramando sabedoria divina com os gestos, o olhar, o sorriso e as palavras que parecem sair diretamente da boca de Deus para nos fortalecer na Fé Cristã - Católica, no Amor de Deus e, muitas vezes, para nos repreender a fim de nos ensinar o caminho certo a seguir. Vê-se claramente que Francisco, o Papa, é mesmo um enviado de Deus para disseminar sabedoria divina sobre a Terra e reafirmar e/ou fortalecer a Fé Católica – a Fé em Cristo Jesus e a devoção a Maria!
Além dos encontros com o Papa, das Missas, dos Shows, das visitas aos estandes de vários estados do Brasil, inclusive do Piauí – muito bem representado pelos amigos de Oeiras com o Bom Jesus dos Passos - nessa jornada, foi marcante, também, as palavras e testemunhos de jovens e/ou bispos nas oficinas cujo tema principal era o Amor de Deus e dos homens e a missão – o ser discípulo missionário do Senhor. Chamou-me muita atenção a fala de um bispo que dava seu testemunho e dizia: “As pessoas precisam demonstrar que amam mais; libere o amor que tem dentro de você, tem gente represando, reprimindo o amor, soltem o Amor; Amem!”
Em outras palavras penso que aquele bispo estava dizendo que fomos feitos para Amar, mas que para soltar o Amor que temos dentro de nós, precisamos conhecer e Amar Cristo. Pois o amor de Deus é tão magnífico, tão grandioso que estando nós repletos dele, não conseguimos mantê-lo só para nós, preso dentro de nós. E, assim a missão começa a se fazer cumprir, quando somos capazes de espalhar o Amor que Deus tem por nós para Ele e para seus filhos – nossos irmãos. A missão precisa acontecer primeiro dentro de nós. E ela acontece quando somos capazes de purificar nossos corações de tudo aquilo que é mal. Só assim, Deus entra em nossa vida e permanece nela; e, cheios do Espírito Santo – vamos e fazemos novos discípulos, se não entre as nações, pelo menos entre nós.
Além disso, quero enfatizar uma das coisas que mais prenderam minha atenção e acordaram meus sentidos emocionais, nessa Jornada. Foi entrar naqueles ônibus lotados, caminhar pelas avenidas compridas do Rio e, também lotadas, e perceber que aquele povo todo era jovem! Jovens de igreja, não eram curiosos que estavam ali para ver o que estava acontecendo. Eram realmente jovens que de alguma forma participam da vida da Igreja. Isso era muito perceptível nos gestos, nas coisas, nas palavras, nas músicas e nas orações que faziam. Um ônibus, uma calçada, uma rua, uma... duas praias lotadas de peregrinos que sabiam e rezavam com a voz e com o corpo: o Pai-Nosso, a Ave-Maria, o Terço, os gritos de paz da jornada, os hinos... e louvores a Jesus Cristo e a Maria. Lindo de se ver! Lindo de se viver!
Talvez isso me fez esquecer que estava no Rio de Janeiro de manifestações abusivas que me provocaram medo dias antes de sair da calmaria de minha Oeiras! No meio de tanta gente que buscava a paz interior como eu; que queria ser um Cristão melhor como eu; que estava perdida na cidade grande como eu; que era guiada pela Fé como eu; que andava na multidão de braços dados com os companheiros que sabiam a direção tanto quanto eu; que amavam Jesus e Maria como eu..., eu esqueci o medo de tudo! Dormi, literalmente, na noite em que deveria ter ficado em vigília! Em plena praia de Ipanema, na calçada, dormi sem sentir medo algum! Não era para ter dormido, a noite era de vigília! Mas, dormi. Quando acordei vi que Deus é que estava a me vigiar porque o sono foi leve e tranquilo.
No dia seguinte a última missa com o Papa. Participei de toda a missa na fila de um banheiro, e não me arrependi nem por um instante! Nela cantei, dancei, orei, conversei com Deus, pedi respostas que nem demoraram a vir! Nessa fila, recebi a benção final que nos enviava de volta para casa; não com a sensação de dever cumprido. Mas, cheios do Espírito Santo de Deus e conscientes de que a missão é cotidiana, a luta em defesa do bem é para todos os dias em todos os lugares. Conscientes de que não estamos sós, eram 3,5 milhões de Jovens dizendo “eu sou a Juventude do Papa, logo eu sou a Juventude de Cristo”!
O que posso, por fim, é dizer que todos os colegas, amigos e familiares de nossa paróquia que não tiveram a oportunidade de ir pessoalmente, foram em nossos corações e nele se fizeram presentes nos momentos principais de orações. Todos vocês certamente viram e ouviram pelos veículos de comunicação muita coisa linda e boa, até mais do que nós que estávamos lá. Era o que eu dizia para minha irmã: “A visão é aí, mas a emoção é aqui”! Com certeza não conseguiria traduzir para vocês com exatidão a emoção que é para um Cristão fazer parte de um evento dessa natureza. Pois, há coisa nessa vida que precisamos realmente viver para compreender a amplitude, a magnitude do que de fato é.
O que sei é que estamos todos muito felizes e agradecidos por termos sido partícipes daquilo tudo que vocês viram, nós ajudamos a dar vida àquele evento, nós estávamos lá, sendo construtores da beleza que foi a JMJ Rio 2013. E, agora, só temos a gradecer a Deus Pai, ao Espírito Santo, a Jesus e a Maria; e, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que nós fôssemos parte importante daqueles 3,5 milhões de Jovens que demonstram ao mundo que a Igreja está muito Viva e que o Jovem vive (n)essa Igreja.
* Elimar Barros é professora de Língua Portuguesa e Literatura